O
professor-doutor Gilton Sampaio, diretor do Campus de Pau dos Ferros da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e candidato à Reitoria da instituição,
conversou com o blog sobre temas variados. A entrevista segue abaixo:
Estamos há pouco menos de dois meses das eleições à
Reitoria da UERN. O fato de ser diretor do Campus de Pau dos Ferros, distante
da realidade do Campus Central, seria
um problema?
Pelo contrário, o fato de ser Diretor de um Campus Avançado, o maior da UERN, e
estar permanentemente enfrentando e buscando solucionar problemas que envolvem
o dia a dia dos alunos, dos técnicos administrativos e dos docentes, nos permite
conhecer mais de perto as questões acadêmicas que envolvem departamentos e
salas de aula e ainda as questões administrativas com as quais precisamos lidar
diariamente. É exatamente o fato de ser Diretor de uma unidade acadêmica da
UERN o que me torna mais próximo, e em permanente diálogo, com todas as demais unidades
acadêmicas da UERN, em todos os Campi
e faculdades, com suas direções e segmentos acadêmicos, em reuniões frequentes,
discutindo os problemas da universidade. Além da experiência como Diretor (já em
segunda gestão) também temos experiência como Chefe de Departamento,
Coordenador de Cursos de Especialização e como Coordenador do Mestrado Acadêmico
em Letras. Conhecemos bem a estrutura administrativa de nossa instituição, pois
da UERN fui aluno de graduação e de pós, sou professor e também gestor. Também
não vejo a realidade do Campus de Pau
dos Ferros, em termos financeiros e das dificuldades enfrentadas, diferente da
realidade do Campus Central; os
problemas que a UERN vivencia hoje se estendem a todas as Unidades, a todos os Campi Avançados e ao Campus Central, são problemas
financeiros, da superburocratização das ações e da centralização das decisões
administrativas e financeiras, de falta de recursos para desenvolvimento de
pesquisa e extensão, de falta de condições dignas para apoio aos alunos (como
Restaurante, Residências, Recursos para eventos do movimento estudantil, aulas
práticas e de campo etc), e esses problemas atingem a todos. E esses problemas
podem ser vistos no Campus Central,
em Mossoró, com parte da infraestrutura sucateada e várias construções
paralisadas. A diferença que existe entre o Campus
de Pau dos Ferros e o Campus Central, por exemplo, é de gestão. Em Pau dos
Ferros, o aluno entra no Campus, vê
que é uma estrutura simples, antiga (iniciada na década de 1970), mas ele tem
a certeza de que é um local bem cuidado, zelado; que a estrutura física e
administrativa está a serviço da academia e do bem-estar do ser humano. Nesse
caso, até penso que o Campus de Pau
dos Ferros pode ser uma referência, um modelo de gestão que dá certo, para
apresentar a toda UERN. Embora saibamos das dificuldades que enfrentamos lá, a
gente observa que as pessoas que vem de outros campi da UERN sentem certa
surpresa, encantam-se com o nosso Campus, a efervescência acadêmica que ali
ocorre. Alunos, professores e técnicos administrativos, em conjunto, doam-se à
UERN. Enfim, ressalto que, na campanha eleitoral, também vamos debater o perfil
e propostas de uma universidade funcional, democrática, descentralizada, aberta
ao diálogo entre os segmentos acadêmicos, e também à sociedade; uma UERN que
tenha gestores que respeitem e cuidem do patrimônio material e imaterial da
instituição.
O que o levou a entrar na disputa pela Reitoria?
Não é a primeira vez que colocamos nosso nome à
disposição da comunidade acadêmica. Na última eleição para Reitor (2009), um
grande grupo formado por professores, alunos e técnicos de todos os Campi lançou o nosso nome com uma
proposta inovadora para a universidade democrática, descentralizada e que apresente
identidade e compromisso efetivo para com o crescimento da UERN, que não pense
a UERN como apêndice de outras instituições. Não obtivemos sucesso naquela
época, mas voltamos a discutir o projeto recentemente, em coletivo, com um grupo
de professores de toda a UERN, em vários momentos e locais. Depois de dezenas
de encontros, envolvendo centenas de pessoas, em grandes e pequenas reuniões
com grupos de docentes, discentes e técnicos administrativos, assim como em
reuniões mais fechadas com os docentes que seriam possíveis candidatos, as
pessoas envolvidas na discussão chegaram à conclusão de que o nosso nome reunia
as características mais adequadas para dirigir a UERN, pelas propostas que
defendíamos, por nossa história de aluno, professor e gestor dentro da UERN,
pela experiência de lutas junto ao nosso sindicato, ADUERN, e em lutas das
demais entidades representativas, como DCE e SINTAUERN. Na verdade, a nossa
entrada na política acadêmica teve início muito cedo, quando eu ainda era aluno
da graduação da UERN, no Campus de
Pau dos Ferros. Sempre ressalto que meu nome surgiu do movimento estudantil, e,
posteriormente, consolidou-se nas lutas da ADUERN, na gestão acadêmica e,
sobretudo, na gestão universitária do maior Campus
Avançado da UERN. A nossa história de gestão e de liderança universitária se
fez também quando fomos chefe do Departamento de Letras, período em que
implantamos dois novos cursos de especialização, a habilitação em Espanhol e
também foi o momento em que coordenamos a Comissão do Mestrado Acadêmico em
Letras da UERN, sendo deste o seu primeiro coordenador. Trabalhamos na
implantação dos novos cursos de graduação naquele Campus; primeiro, com uma pesquisa sobre a necessidade e os
impactos de novos cursos de graduação para Pau dos Ferros e região; depois,
coordenando o Fórum Permanente de Discussão para Implantação de Novos Cursos de
graduação no CAMEAM. Na atual disputa, o nosso nome surge como o candidato a
Reitor de maior experiência em gestão e como parte dos segmentos da UERN. Sou o
único, como disse, que foi aluno de graduação (Pau dos Ferros) e de pós
(Mossoró) da UERN; o único que já foi gestor em todos os níveis acadêmicos,
sempre eleitos pelos pares, na Chefia de Departamento, na Coordenação de
Especializações, na Coordenação de Mestrado e na Direção de um Campus Avançado. Sou também o único, entre os três candidatos,
em que toda nossa experiência de gestão foi em cargos eleitos democraticamente
pelos pares. Nossa experiência de gestor não emana do desejo ou do poder da
caneta de um gestor maior ou do poder de minha família na sociedade. Ela emana
das bases da UERN. Já temos quase 25 anos dentro de nossa universidade. E o
nosso nome surgiu nas bases, como desejo de alunos, professores e técnicos
administrativos.
A UERN terá orçamento
de R$ 217 milhões em 2013 e o seu maior desafio é o custeio. Como fazer para
aliar política de desenvolvimento institucional (com novos cursos e necessidade
de pessoal) com a demanda para a sua manutenção?
A primeira coisa que posso falar sobre orçamento é que
necessitamos urgentemente de autonomia financeira articulada à democratização
das decisões internas na UERN, com descentralização administrativa, financeira
e acadêmica. A autonomia financeira é decisiva para o futuro da nossa universidade,
pois nos dá um mínimo de segurança sobre o que teremos efetivamente de recursos
a serem investidos na UERN. Essa articulação entre autonomia financeira,
orçamento garantido, democracia interna e descentralização, além de autonomia
política, será a base para se pensarem com seriedade questões de muita
importância como desenvolvimento institucional, o crescimento na graduação, na
pós-graduação e as melhorias salariais e de condições de trabalho e de estudo de
seus servidores e alunos. E isso será feito em permanente escuta das demandas
advindas da ADUERN, do SINTAUERN e do DCE, dialogando com cada segmento, sempre.
Tudo isso representará um salto qualitativo, um novo modelo de universidade,
mais democrático, uma ruptura com esse continuísmo que se apresenta hoje na
UERN. Esse novo modelo de universidade permitirá que ela seja mais funcional, mais
acadêmica, mais democrática, mais justa com a grande maioria, menos
centralizada e com condições dignas de trabalho e estudo para os segmentos
acadêmicos.
O que fazer para
incrementar cursos e, ao mesmo tempo, fazer com que a Universidade esteja mais
presente na sociedade?
A UERN hoje está presente em todas as regiões do
Rio Grande do Norte. Em termos de alunos matriculados na graduação, ela atende
também aos vizinhos estados da Paraíba e do Ceará. Mas acho que ela poderia ser
mais presente também em termos de formulação de políticas públicas, por
exemplo. E essa questão tem ligação com a falta de autonomia das unidades. Vejo
outras instituições, que funcionam de forma independente, desenvolverem ações
que não temos como fazer aqui. A UERN já atingiu a marca dos 200 doutores, mas,
mesmo assim, ainda é muito tímida em nível de Pesquisa e Pós-Graduação. Não há recursos
no orçamento da UERN para pesquisa assim como os Programas de Pós-Graduação
vivem na dependência dos recursos federais. Não há uma política arrojada de
financiamento de pesquisa em nossa universidade. E o pior, os nossos
pesquisadores, quando captam recursos externos, federais, sempre enfrentam dificuldades
para efetivarem suas pesquisas, por exemplo, porque não há uma política de
apoio nem uma valorização efetiva da pesquisa e da pós-graduação stricto sensu. Pelo contrário, há uma
superburocratização que muitas vezes retira dos pesquisadores o desejo de
captar recursos. Além disso, há barreiras na UERN, sobretudo na área de
Pós-Graduação lato sensu, das
Especializações, que impedem muitas vezes os nossos departamentos de oferecem
especializações públicas e gratuitas. Os departamentos que não dispõem de
doutores para pensar em Mestrado, por exemplo, ficam quase impossibilitados de
oferecem uma Especialização, pois não há nenhum apoio para essa ação. A não ser
que seja paga. E como ficam os alunos que desejam fazer uma especialização e
não podem pagar por ela? Sem
fortalecimento da pesquisa, da pós-graduação e da extensão, a inserção na
sociedade fica cada vez mais difícil. E é isso que está ocorrendo. Acrescente a
isso outras questões, como: qual é a nossa política eletiva e debate de
questões centrais para educação básica, conduzidas pela UERN? Qual é a nossa
política para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte? Nós temos profissionais
em diversas áreas que podem ser aproveitados e junto a outros, de outras
instituições, pensarem, articularem e implementarem projetos diferentes para
uma sociedade diferente, mais democrática, mais ética. É preciso atuar de forma
mais concreta na construção de uma sociedade melhor para todos nós cidadãos. A
UERN não é a-sociedade; ela não é anti-social. Pelo contrário. Ela é um espaço
privilegiado de relações sociais, de projetos coletivos, de produção e de
disseminação do conhecimento. E vamos dar maior visibilidade a essas questões
também, que muito beneficiará a sociedade.
Como o senhor avalia a política extensionista
atual?
A UERN é uma instituição extremamente
burocrática, que até aqui não conseguiu construir a bandeira de academia. Essa
postura interfere diretamente nas chamadas atividades fins, no tripé ensino-pesquisa-extensão.
Com ações isoladas e sem recursos garantidos, os professores vão produzindo o
que podem, com muito esforço e quase nenhum incentivo, são ações pontuais,
importantes, mas sem o devido reconhecimento institucional. Algumas ações até
tem conseguido atingir um público amplo e realizado seus objetivos, entretanto,
são ações que precisam ser integradas em um projeto maior de universidade.
Vamos mudar isso. Queremos que o eixo ensino-pesquisa-extensão possa ser
concebido pelas políticas públicas. É preciso uma Extensão forte e competitiva
e que esteja antenada com outros setores para captação de recursos. Para isso
necessário se faz o envolvimento de todos os Campi da UERN. Hoje, por exemplo, muitos estudantes e professores
dos Campi e Núcleos da UERN não
participam equitativamente de atividades de extensão e de pesquisa e isso é um
débito da instituição para com a comunidade acadêmica. Será nossa luta por
recursos internos, externos e com regularidade para extensão. É preciso
garantir orçamento, carga-horária docente e técnica, programas e ações, em
plena articulação entre os departamentos acadêmicos, unidades e a sociedade.
Não podemos continuar com a atual política do acaso, sem valorizar a extensão,
ela é uma das atividades centrais de uma universidade e não pode ser a prima
pobre, pouco falada e pouco valorizada, como é atualmente na UERN.
Os cursos de
Mestrado e Doutorado são suficientes para atender a demanda e às exigências do
MEC?
Como posto no Plano de Desenvolvimento Institucional da
UERN (PDI), em seu contexto institucional
se apresenta como desafio o fato de que, para
manter o status de universidade, a
UERN requer a institucionalização da pesquisa e a criação de cursos de
pós-graduação stricto sensu, como
forma de verticalização do conhecimento. Embora concordemos com o exposto no
plano, acreditamos que não basta a UERN implantar cursos de
pós-graduação para atender as demandas do MEC e da CAPES. Necessário se faz que
a instituição favoreça condições de funcionamento desses cursos com a devida
qualidade. Condições essas que passam, por exemplo, por dispor uma biblioteca
com acervo, com quantidade e qualidade na área, como também laboratórios,
bibliotecários, vistos hoje como aspectos prioritários para atender à demanda
do MEC, sobretudo no quesito melhoria dos cursos e continuidade destes bem
conceituados. Portanto, será nosso propósito de gestão investir na pesquisa
desde a graduação como atividade que produz conhecimento, como parte formativa
do aluno, em qualquer nível, e que fomenta a pós-graduação, bem como investir
na qualidade do ensino de graduação (que tem sido pouco falado em nossa
instituição, às vezes até negligenciado, não dando as condições necessárias
para que os alunos possam permanecer na UERN o dia inteiro, por exemplo), visto
que a UERN obteve conceito 3 na avaliação do
INEP, numa escala que vai de 1 a 5, sendo aprovada e considerada suficiente,
porém como uma instituição mediana. Como consequência desse resultado mediano,
a UERN assumiu o patamar de única IES pública do RN com esse conceito, já que
as demais instituições públicas (UFRN, UFERSA e IFRN) obtiverem conceito 4,
sendo consideradas muito boas. Com isso, concluímos que a criação de Mestrado e
Doutorado não se constitui por si só suficiente no atendimento das exigências
do MEC, pois há muitos desafios para futura gestão. E não podemos pensar em uma
pós-graduação de qualidade sem uma graduação de qualidade. Toda ação de uma
universidade só se sustenta se tivermos uma graduação de qualidade. E aqui é onde
a UERN tem menos investido. Pela experiência que temos também com a graduação,
em departamentos e direção de Campus,
sabemos o quanto não podemos fazer discursos exclusivos para Mestrados e
Doutorados como se, isolados, estes transformassem a nossa universidade. É
preciso conhecer a graduação, conhecer as dificuldades dos alunos, de
transportes, de alimentação, de atividades de campo, seus problemas e
potencialidades, para poder transformar a UERN numa universidade do tamanho de
nossos sonhos. Sem graduação forte, não existirá jamais uma UERN forte.
Qual será o principal desafio da próxima gestão?
Os desafios são muitos, mas, como dissemos, a UERN
tem uma estrutura arcaica, burocrática e centralizada. E o maior desafio é
superar esse problema sério, evitar o continuísmo desse modelo de gestão que impede
o crescimento real de nossa universidade. Desburocratizar os setores
administrativos e descentralizar poderes e recursos serão os pontos-chave da
nossa gestão. Não podemos nos contentar com uma Universidade em que fortes são
somente os poderes das canetas centralizadas em gabinetes de pró-reitorias,
traçando isoladamente os destinos de milhares de vidas, de quase todas as ações
acadêmicas e administrativas de nossa universidade. A última avaliação do MEC,
na qual a UERN obteve conceito 3, como dito anteriormente, expressa, dentre
outras questões, que há a necessidade e a urgência de maiores investimentos
financeiros na qualidade do ensino que oferecemos hoje à sociedade, nos
recursos humanos, nos nossos profissionais e nos estudantes. E o problema não é
somente ter muitos doutores, como muitas vezes sugerem os gestores. Na FANAT, a
“faculdade dos doutores”, como é chamada, o Curso de Física obteve Conceito 2
no MEC. Foi reprovado. E é um dos cursos que tem mais doutores,
proporcionalmente, na UERN. Mas onde está o problema? A Administração Superior
preferiu não discutir abertamente a questão, com a comunidade acadêmica.
Silenciamento total. Mas quem são os alunos de Física? Como eles viajam até o Campus Central, em Mossoró? Como se
alimentam na instituição? Há locais para eles permanecerem no Campus a semana toda e frequentarem os
laboratórios modernos dos pesquisados, geralmente construídos com recursos
captados externamente? Como são financiadas as viagens dos alunos para os
eventos científicos no Brasil e fora dele? Citei Física, porque este curso
serve de exemplo para todos nós. E se tornou emblemático por revelar um grande
mal que assola a nossa instituição, que é a falta de apoio aos alunos da
graduação. Precisamos, em caráter de urgência, dar condições dignas para que os
alunos estudem, para que os professores ensinem e para que os técnicos
administrativos trabalhem. É tão
importante termos doutores e pós-doutores em Física como termos as Residências
Universitárias, Restaurante, Transportes coletivos, recursos para alunos,
docentes e técnicos participem de eventos de interesse de seu curso, de sua
formação, de seu trabalho. Essa avaliação do MEC expressa também a necessidade
e a urgência de se pensar administrativamente uma UERN diferente, que valorize
e garanta as condições objetivas de ensino e aprendizagem, com espaços
apropriados; uma UERN mais acadêmica, democrática, descentralizada e funcional,
em que os poderes estejam de fato nas unidades acadêmicas e departamentais; uma UERN em que a burocracia interna
funcione e esteja sempre a serviço do crescimento da própria universidade e do
pleno desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Como
podemos pensar numa universidade de qualidade se a maioria de seus alunos não
tem direito a aulas práticas, a aulas de campo, à participação em eventos
acadêmico-científicos, à participação no movimento estudantil etc, pois não há
ônibus (um único, para toda UERN, em condições precárias), não há micro-ônibus,
para conduzirem os mesmos, não há recursos para financiar as viagens dos
alunos? Se grande parte da infraestrutura está sem manutenção, deteriorada, até
com parte dela interditada, sem condições de funcionamento? Se alunos com
deficiência física, por exemplo, não podem ter acesso a Laboratórios, salas de
aula do curso etc, por não ter acessibilidade ou faltarem equipamentos
adequados? Como podemos pensar numa universidade de qualidade em que seus
docentes não dispõem de recursos para financiar suas pesquisas nem tampouco
para apresentar os resultados destas em eventos acadêmico-científicos ou em
associações ou sociedades da área? Podemos mesmo pensar em uma universidade de
alta qualidade se a única forma de termos financiamento para pesquisas é
captando recursos externos? Se as bolsas existentes para os alunos são poucas e
com distribuição muito questionada por docentes de diferentes unidades
acadêmicas, por serem centralizadas? Se os professores, para participarem de
eventos acadêmicos, em sua grande maioria, não tem nenhuma garantia de apoio institucional?
A luta e a responsabilidade por uma universidade de excelência é a luta de
Gilton Sampaio e Lucio Ney, e é a luta dos segmentos que nos apoiam.
É possível transferir a Reitoria para o Campus Central?
É possível, sim, mas não vejo essa questão como
prioridade agora. Todos os recursos da UERN devem e serão investidos para a
melhoria da qualidade do ensino, nas unidades acadêmicas, em todos os campi. De imediato, as prioridades na
área de infraestrutura são para as salas de aula, para os laboratórios etc. No Campus Central, temos o bloco da FANAT e
o da FALA para concluir, por exemplo, e temos ainda os Campi de Caicó e de Natal com obras paradas, além da necessidade de
manutenção e de novas construções necessárias ao funcionamento dos Campi de Assu, Patu e Pau dos Ferros.
No campo da
pesquisa, como o senhor - caso seja eleita reitor - faria para direcionar
o saber acadêmico em benefício da economia regional, já que temos o sal, ferro
e petróleo como principais eixos econômicos?
A
UERN é a Instituição de Ensino Superior que tem maior atuação no Estado do Rio
Grande do Norte, sobretudo no interior, em virtude da sua localização
geográfica. Porém, a falta de articulação e mobilização
políticas internas e a ausência de um planejamento financeiro e administrativo
descentralizado impedem uma participação e uma contribuição maior dos
pesquisadores em questões mais concretas, de intervenção direta na sociedade,
seja em questões econômicas, seja em outras questões. Em termos da pesquisa propriamente
dita, falta investimento, faltam recursos para que os pesquisadores possam
avançar em suas pesquisas acadêmicas a ponto de as mesmas poderem dar efetivas
contribuições ao setor produtivo e à formação humanística de nossos cidadãos.
Os alunos envolvidos em pesquisa representam um número ínfimo. Universidade de
qualidade só existe se houver investimentos nos recursos humanos e no
financiamento efetivo (pelo próprio orçamento) de suas atividades-fins (no
ensino, na pesquisa e na extensão) e quando houver descentralização financeira,
acadêmica e de gestão. É isso que iremos fazer.
A política dos Núcleos Avançados de Educação
Superior deve ser mantida?
Sempre fui favorável à expansão do ensino
superior, à sua interiorização, principalmente. O acesso a jovens do interior,
em sua maioria, carentes, que provavelmente não teriam como ingressar em curso
superior que não fosse através da existência de um Núcleo ou Campus Avançado no seu município ou em
cidade próxima já faz com que eu seja favorável à existência dos Núcleos.
Entretanto, muita coisa precisa ser revista; oferecer no núcleo apenas as
atividades de ensino, por exemplo, reduz a qualidade da formação daqueles
alunos. É preciso reestruturar a política dos núcleos, encontrar uma forma que
possibilite ao aluno do núcleo ter acesso às atividades de pesquisa e extensão,
à participação nos eventos, enfim a todos os mecanismos necessários a uma
formação de qualidade. Claro, essa reestruturação também precisa otimizar os
recursos financeiros, uma maior participação dos parceiros, de forma a não
onerar mais ainda a instituição, sem acréscimo de recursos financeiros. É
preciso buscar/otimizar as parcerias com as prefeituras, com o Estado do RN e
com o Governo Federal; os municípios precisam garantir as contrapartidas e
entrar, junto com a Reitoria, Unidades Acadêmicas e Departamentos, na
articulação de outros parceiros públicos, no estado e em Brasília. Junto,
alunos, técnicos administrativos, docentes e sociedade, faremos uma nova UERN,
com um Modelo Democrático e Descentralizado de Gestão Universitária; uma UERN
do tamanho de nossos sonhos.