De Fato.com
O professor Rodrigo Sérgio Ferreira de
Moura há quase 15 anos integra os quadros da Universidade Federal Rural do
Semiárido (UFERSA), atuando, quase que em 100% desse período, como auxiliar da
gestão superior da instituição. Esteve na equipe do ex-reitor professor Josivan
Barbosa e é hoje pró-reitor de Extensão e Cultura. Apesar do vínculo com o
atual reitor, professor José de Arimatea de Matos, Rodrigo Sérgio se coloca
como pré-candidato ao cargo mais alto na hierarquia administrativa da Ufersa, e
vai para a disputa contra um nome apoiado por Arimatea, além de outros
concorrentes.
Na entrevista da semana da seção “Cafezinho com César
Santos”, Rodrigo Sérgio fala sobre as motivações de sua pré-candidatura, afirma
que possui experiência suficiente para assumir a reitoria da Ufersa e tece
crítica aos seus futuros adversários na disputa, revelando, inclusive, que
chegou a aconselhar o ex-reitor Josivan Barbosa a não participar do processo
eleitoral: “O momento dele já passou.” Acompanhe.
O SENHOR
vai disputar o cargo de reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido?
NÓS colocamos o nosso nome como pré-candidato a reitor da
universidade a partir de mais ou menos novembro, quando nós dialogamos com um
grupo, uma vez que sou pró-reitor da universidade, e havia um candidato da
gestão, mas devido a sua militância, ele acabou amarelando e saiu da disputa, e
aí o reitor abriu a discussão com os colegas, inclusive a gente colocou nosso
nome para gestão, mas ele fez uma opção pelo pró-reitor de Graduação, o senhor
Rodrigo Codes, e a gente com o outro grupo de colegas, que também fazem parte
da gestão, inclusive o meu pré-candidato vice, professor Almir Mariano,
empreendedor, foi gestor do CREA local, tem um grande projeto de extensão,
trabalha com regularização fundiária, é uma referência nacional inclusive,
então eu e outros colegas da gestão resolvemos, digamos, discordar um pouco da
escolha do candidato, do pró-reitor de Graduação, pela sua falta de
experiência, tem três anos apenas na gestão, é mais novo também na
universidade, e nós como já estamos na gestão há um certo tempo, passamos três
gestões como pró-reitor, um tempo como assessor jurídico, assessor da reitoria,
mais quatro anos como presidente da Fundação, a gente quer trazer essa
experiência para este momento tão importante da universidade, de transição,
porque encerra um ciclo agora de oito anos do professor Arimatea, assim como
encerrou um ciclo lá atrás de oito anos do professor Josivan. É uma transição
também no momento político do Brasil, uma mudança de Governo, um modelo de
gestão diferente e a gente quer levar essa experiência, para ser essa transição
com responsabilidade dentro da universidade.
O SENHOR é
da equipe do atual reitor, é pró-reitor, e lança um pré-candidatura numa linha,
digamos, de oposição. Como vai ficar essa relação neste momento que antecede o
processo eleitoral?
O REITOR disse que não era nada pessoal a escolha dele,
inclusive pessoalmente não tenho nada contra o reitor, mas ele fez uma escolha.
Ele está se aposentando, inclusive já anunciou para a comunidade esse desejo,
de se aposentar após o processo eleitoral. Não compreendemos bem o intento dele
de continuar nessa campanha, poderia deixar os dois candidatos disputar
livremente, mas ele fez essa opção, inclusive anunciando também que pretende
morar na Europa, em Portugal, mas ele decidiu que vai levar essa campanha até o
fim e quer fazer seu sucessor. Não entendemos muito bem a escolha pelo
pró-reitor de Graduação, por isso que alguns colegas estão nos acompanhando.
Você tinha um candidato militante, ele sai e vamos escolher um candidato que
não cheira e nem fede, que não tem posição muito firme, é pouco expressivo,
para ver se consegue agradar o Governo que tanto se ataca, talvez o sentido
seja esse, dizer, por exemplo, nos campi da universidade que vai obter a
nomeação desse candidato, um pouco apático, porque trouxe aqui um secretário,
do Governo, terceiro escalão, que havia prometido esse certo apadrinhamento,
então deseja-se fazer uma transferência de voto para um candidato que não tem
uma expressividade, por isso que a gente, pensando na condução dos trabalhos na
universidade, desses ciclos que estão se encerrando, a gente quer colocar o
nosso nome com a nossa equipe de colegas também, que fazem parte da gestão e
são pessoas competentes, e outros da universidade, para que gente possa conduzir
o rumo dessa universidade tão importante para o desenvolvimento de semiárido.
O SENHOR
foi da equipe do ex-reitor Josivan Barbosa, continuou no primeiro escalão da
gestão do professor José de Arimatea, e agora o senhor oferece o seu nome para
a consulta junto à comunidade acadêmica. Onde o senhor pretende localizar a sua
candidatura dentro desse processo?
A GENTE chegou na gestão desde 2007, coordenamos a
campanha do professor Josivan, depois participamos também da coordenação da
campanha do professor Arimatea, em 2012, estamos na equipe, e com isso fomos
adquirindo certa expertise na gestão pública, chegando exatamente neste momento
de crescimento da universidade. A universidade foi transformada pela lei 11.155
publicada no Diário Oficial da União do dia 1° de agosto de 2005, e nós
chegamos exatamente um ano depois, em 1° de agosto de 2006, e acompanhamos esse
crescimento exponencial da universidade, inclusive até disse para Josivan
recentemente, ele que é pré-candidato, que apesar de admirar o trabalho que ele
fez na universidade, mas em gestão e política, têm seus momentos. Naquela
oportunidade, ele foi diretor, depois foi nomeado reitor pró-tempore na
transformação, depois foi candidato a primeiro reitor, poderia ter sido
reeleito, mas escolheu uma vida política partidária. Fez uma aventura política
logo no PT e aí levou aquela rasteira que todo mundo conhece, foi obrigado a
ser candidato à vice numa campanha que saiu derrotado, depois filiou-se ao
PCdoB e agora, até para surpresa da comunidade, está tentando voltar para o
cargo de reitor.
O SENHOR
sugere, então, que o ex-reitor não seja candidato?
EU DISSE para ele: Olhe, acho que o momento passou, fui
seu colaborador e você fez um belíssimo trabalho de transformação, mas tinha
oportunidade de consolidar o trabalho, de continuar à frente da gestão e seria
reeleito facilmente. O professor Arimatea está saindo. Apesar de ser assessor
dele, ele está saindo da instituição. Então o que a gente quer fazer? Não é
diferenciar as ações; nós queremos colocar o aprendizado nessas últimas quatro
gestões que nós participamos para a continuidade do crescimento da
universidade. A universidade tem uma responsabilidade muito grande com o
semiárido. Nós estamos inclusive localizados na capital do semiárido, reconhecida
pela lei 13.568 de 2017. Hoje, nós temos 45 cursos de graduação, praticamente
11 mil alunos, entre graduação presencial, à distância, e pós-graduação, em
torno de 19 cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado. Temos hoje em torno
de 706 docentes, mais ou menos 540 técnicos administrativos, algo em torno de
350 servidores terceirizados, o nosso orçamento de 2019 foi de R$ 290 milhões,
sendo R$ 239 milhões apenas com pagamento pessoal, R$ 43 milhões de custeio e
R$ 8 milhões de capital. Daí, a importância de ter o conhecimento dessa
transformação, desse processo, é poder conduzir essa universidade com
responsabilidade, com experiência administrativa.
É FATO que
houve realmente o crescimento da instituição, o avanço dos campi, mas o senhor
não acha que a Ufersa, apesar do enorme investimento que recebeu, não deve
ainda uma posição melhor em relação à pesquisa, em relação a outros segmentos
que possam dar uma resposta mais imediata à sociedade, ao contribuinte que
banca essa universidade?
COM consolidação dos campi hoje, nós temos um grande
desafio. Houve um grande investimento de fato no ensino superior, sobretudo.
Nas federais, precisava de fato esse aumento, essa expansão foi positiva.
Talvez, uma crítica que se faça é ao FIES, em que grandes grupos empresariais
se constituíram no Brasil, conseguiram crescer de forma assustadora. Ficou
renegado para terceiro plano o ensino básico, fundamental, e aí hoje nós
recebemos jovens na universidade, por diversas políticas, de inclusão, por
exemplo, e esse jovem não tem a formação adequada, e isso resulta em índices de
evasão e de retenção que aumentaram nos últimos três anos, sobretudo, é um dado
importante que a gente precisa melhorar, porque a missão principal da
universidade é a formação do estudante, exatamente porque os pais e os próprios
estudantes que trabalham, vários deles pagam impostos e, como retorno, esperam
no âmbito da universidade o ensino público, gratuito e de qualidade. Essa é uma
pauta importante que nós queremos defender sempre, a universidade pública, que
é uma instituição milenar, que merece ser preservada como formação do
conhecimento crítico, humanístico, isso independente de campos de pensamento, a
universidade sempre tem que existir, tem que ser pública.
COMO dar
uma melhor resposta à sociedade, então?
A UNIVERSIDADE tem que ter investimento, agora nós
precisamos nesse novo momento fazer, apesar de a nossa universidade ter
conseguido sempre executar o orçamento de forma adequada e ser reconhecido
pelos próprios relatórios da própria CGU, TCU, precisamos dar talvez uma melhor
qualidade, fazer uma avaliação do gasto público, para que se reverta em mais
benefício para a sociedade, e buscar apoio, inclusive no governo atual, para
que possamos difundir mais desenvolvimento tecnológico, a interação com as
empresas. Há uma cobrança muito grande atualmente que a universidade forme
alunos, mas também tenha índice de sucesso de empregabilidade, e é importante
que esse aluno esteja em contato com a sociedade, com as empresas, se essa
universidade fica muito fechada, inclusive pela questão burocrática que engessa
muito administração da universidade, a gente tem muita dificuldade de executar
recursos, inclusive, no campo da pesquisa, e movimento tecnológico da extensão.
O GOVERNO
Federal editou a medida provisória 914 que estabelece regras para o processo de
escolha nas universidades federais e nos institutos técnicos federais. Houve
uma reação, inclusive da União de Reitores. Como o senhor avalia essa MP? Ela
modifica, engessa, tira o processo democrático da escolha?
EXISTE uma lei que trata da eleição do reitor desde 1968.
Essa lei diz que na eleição é formada uma lista tríplice, respeitando a
proporção de no mínimo 70% do corpo docente, e ela tem que ser votada pelo
Conselho Universitário. No caso da nossa universidade, ainda desde Esam, nós
sempre tivemos uma consulta formal. Com exceção da última eleição que foi
paritária, todas as anteriores respeitavam o que está na lei: os votos dos
docentes correspondiam a 70% e no nosso estatuto dizia que era 15% para técnico
e 15% para discentes, mas sempre houve uma consulta formal. O que a medida
provisória traz como principal definição é que essa consulta, que era
facultativa, ela agora é obrigatória e formal, ou seja, os três nomes que
saírem dessa consulta, que na prática já era assim, mas não era obrigatório,
eles serão homologados pelo Consuni, não mais eleitos pelo Consuni, quem vai
eleger é a comunidade, ou seja, aumenta a decisão da comunidade, não é uma
restrição à democracia, porque antes só o Conselho fazia a eleição, apesar que
já tinha uma praxe de respeitar os nomes que saíam da comunidade. Não é mais
uma mera faculdade ter ou não consulta. Nesse momento, a nossa universidade
estava inclusive cogitando não ter consulta neste ano. A minuta que disciplinava
as eleições deste ano, como foi encaminhada para o Conselho Universitário pela
reitoria, em apenas um parágrafo que dizia: “Poderá haver eleição informal”, ou
seja, imagine o TRE, fazendo uma alusão aqui, dizer: “Olhe, a eleição de
Mossoró agora em 2020 vai ser feita pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, as
associações”, imagina como seria? Então, eles queriam que se houvesse a
eleição, a consulta seria informal realizada pelas associações de classe da
universidade.
NA SUA
opinião, a democracia estaria mais sustentada, preservada no voto paritário ou
da forma como está definido, oficializado agora por essa MP, é um processo mais
justo?
NÓS já estávamos preparados, inclusive, para uma eleição
paritária, como tinha acontecido na avaliação interior. O que ocorre na
realidade é que desde a criação da lei em 1968, observou-se a questão da
atividade fim da instituição, por exemplo, diferente da eleição normal, onde
qualquer cidadão, atendidos os pré-requisitos, pode ser candidato a determinado
cargo, para reitor da universidade só docente pode ser reitor, isso é quase que
uma regra em praticamente todas as universidades do mundo, então, nesse
espírito é que a lei considerou o peso de 70%. A medida provisória não alterou
isso. As universidades fizeram a consulta de forma paritária, mas não houve
muita contestação judicial nesse sentido. Para a gente seria indiferente, até
porque nós temos valorosos servidores e estudantes, a finalidade da
universidade é atender os estudantes, exatamente os filhos dos pagadores de
impostos e os próprios pagadores de impostos, e os servidores como atividade
meio é que são responsáveis também pelo sucesso da nossa universidade na
execução da gestão administrativa.
O
PRESIDENTE Jair Bolsonaro já disse que não tem obrigação de nomear o primeiro
da lista e que, de fato, legalmente não existe essa obrigação. Ele deixou claro
que a decisão é do Governo. Com essa exposição, o senhor acha que vai existir
uma interferência político-partidária nesse processo de escolha até a nomeação
do futuro reitor da Ufersa?
ESSA questão político-partidária é delicada, porque nós
defendemos, inclusive, que a universidade tem de estar livre de partidos, sejam
de esquerda, sejam de direita, a universidade não tem que ter intervenção
partidária. O processo de nomeação, uma vez atendidos os requisitos, ele é
encaminhado para o MEC até 60 dias antes do fim do prazo do mandato, no caso o
mandato do reitor se encerra dia 5 de setembro; do MEC, esse processo vai para
a subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil, que faz uma análise do
processo, e chega às mãos do presidente para a nomeação, isso nós não temos
como interferir, agora, vou dar só um exemplo prático: o reitor está dizendo
nos campi que vai nomear o seu candidato, porque um secretário do terceiro escalão
veio aqui, gostou da universidade, achou ele bonito e vai nomear o candidato
dele. Aí a outra candidata, Ludmilla, acho que desse grupo, é a que tem menos
experiência na gestão superior da universidade, vai um jornal, um blog local
dizendo que não vai buscar atalho político, mas na semana seguinte está em
Brasília, batendo a porta do general para se apresentar e pedindo apoio para
uma possível nomeação e publica ainda nas redes sociais. O candidato professor
Josivan, por exemplo, ele esteve filiado ao PT, agora PCdoB, mas já foi bater
às portas do governo também pedindo a bênção, caso esteja na lista tríplice,
para ser nomeado. Obviamente que a gente, o meu grupo, após o resultado, esse
não é o momento de estar se discutindo agora, isso será discutido no momento
oportuno, mas a gente vai discutir também as ideias do projeto de universidade.