Muito se falou sobre Ética, Justiça e
transformações. Uns dizem que sabem o que significam. Outros pensam que sabem.
Mas a maioria, incluindo os que dizem e os que pensam saber, nada sabe. Ficam
perpetuando o que veio antes da sistematização do pensamento racional acerca do
surgimento de tudo. E se valem de algo que todos levam em consideração diante do
que, à primeira análise, surge como inexplicável. O senso comum é, sem dúvida,
a alternativa mais viável para quem não quer se dá ao trabalho de pensar. De
raciocinar. De sair das trevas e encarar a luz.
Sair da escuridão não é fácil. Requer
desprendimento. Renúncia. Afastar-se do que é fácil. Sim, pois pensar é
difícil. E não é todo mundo que consegue se adaptar ao brilho da luz. Embora
saibamos que somente a luz leva ao desenvolvimento como um todo, seja
econômico, político, social, filosófico e intelectual. Sim, estamos falando do
conhecimento.
Todos dizem que conhecem alguma coisa. E os
que tentam corrigir quem diz que sabe e conhece algo incorre no mesmo erro. E
isso implica dizer que os que corrigem pela metade são iguais aos que nada
sabem. E os que dizem nada saber são, verdadeiramente, mais sábios do que os
que externam, pela metade, algum tipo de saber. Sócrates já ensinava isso
perfeitamente bem. Ou vocês não conhecem a famosa frase “Só sei que nada sei”?
Antes do pensamento racional tomar conta do
mundo, este era compreendido por meio de mitos. A mitologia grega impregnava
tudo e a todos. Como se o homem não pudesse escolher algum caminho e este deveria
ser indicado pelos deuses. Zeus, Apolo, Hera, Afrodite e todos os que moravam
no Olimpo ditavam as regras. Surgiram histórias e estórias sobre isso. Alguns
filmes mostram tal realidade perfeitamente, como “A Guerra de Tróia”, “Fúria de
Titãs” e tantos outros.
E hoje, mesmo diante da Ciência, que segue a
tríade “Tese”, “Antítese” e “Síntese”, de alguma maneira todos nós nos deixamos
levar por algum pensamento que não seja o nosso. E, talvez, a explicação para
isso venha da tal experiência de vida dos mais velhos. É vem verdade que
precisamos respeitar a posição dos que nasceram antes. Mas isso não significa
dizer que a experiência deles sirva como modelo. Apenas indica que eles,
provavelmente, tenham passado por situações similares às que podemos viver. Mas
longe está a possibilidade de tudo ser da mesma maneira.
E compreender essa particularidade do viver
humano é complicado. Tanto para quem tenta direcionar algum ensinamento
vivenciado com base no senso comum quanto para quem não quer se deixar influenciar
por experiências vividas à base do empirismo. Obviamente que este é um dos
pilares do conhecimento e faz parte de tudo o que o homem conhece hoje. E é
inerente à própria Ciência. Faz parte da pesquisa. Aliás, é a parte inicial
desta.
Mas para chegar ao estágio empírico, é
preciso saber o que antecedeu esta fase. E é necessário voltar no tempo. Em um
período em que o homem ainda vivia sob o comando do mito, dos deuses, e se
deixava guiar por algo que ele não via e que punia se não fosse obedecido.
Os deuses do Olimpo mostravam ao homem o que
este deveria fazer, sobre como se comportar e o quais ações deveriam ser
executadas para evitar algum mal à humanidade. Mas se formos pensar direito,
seria inconcebível compreender que algum deus – Zeus, Apolo ou qualquer outro –
orientasse o que deveria ser feito para se ter alguma felicidade. Sim, pois
esta, a felicidade, dependia exclusivamente da vontade deles, dos moradores do
Olimpo. E, assim, chega-se a conclusão de que o que os homens fariam, em uma
provável verdade, seria concretizar algo que eles queriam fazer e colocavam tal
objetivo como sendo um aviso de seres poderosos.
Atualmente, analisando o quadro do passado,
difícil assimilar a teoria de que algum ser com asas nos pés teria contato com
qualquer ser humano. Ou que um outro ser desceria à terra na figura de um raio
ou de uma ave para fazer sexo com mulheres e criaria, assim, os semideuses,
como Hércules, Perseu e outros. Ou ainda que teria existido o Minotauro, ser
que tem corpo de homem e cabeça de touro.
Ou também que as gárgulas e demais seres inerentes à Grécia Antiga.
Quando se é jovem, assistir a filmes que
contenham tais figuras míticas é um deleite para a imaginação. Chega-se ao
ápice e vislumbra-se uma realidade totalmente fora da que conhecemos e, talvez,
imagina-se um cenário em que homens e deuses entrariam em conflito em nome da
liberdade. Sim, pois todos buscam ser livres. E, de alguma maneira, travamos
batalhas para atingir tal objetivo. A guerra travada no filme “Fúria de Titãs”,
por exemplo, evidencia isso: que o homem não quer mais seguir o que deuses
querem e busca tão sonhada liberdade. E hoje não seria diferente. Mas isso será
visto mais adiante.
Tudo isso em nome de algo que era visto, e
ainda é, como sendo a coisa certa. Mas, afinal, como se chega a isso? Como se
faz algo certo, mesmo diante de tantos caminhos? Como ser livre e feliz em um
mundo repleto de alternativas? As respostas parecem ser dúbias e várias. Daí,
em alguns aspectos, o homem busca o que ele quer em livros religiosos. Em
parábolas. Em escritos que são atribuídos a Deus. E recorre-se aqui a algo
divino. Tal qual acontecia na Grécia Antiga. Mas não se vive mais naquele tempo
e não se poderia, em teoria, deixar-se guiar por alguma coisa que não fosse
atual. Mas o que poderia ser atual? Eis a questão.
Alguns teóricos vislumbram a possibilidade de
se obter a felicidade e a liberdade seguindo um caminho único. O tal caminho
estreito e espinhoso que surge na Bíblia deixa entender que se trata de
uma vida baseada no sofrimento e na negação dos prazeres. Mas aí vem outra
questão: negando os prazeres e com um viver regrado nas privações, estaria o
homem seguindo uma linha à liberdade? Ser livre é seguir ensinamentos
religiosos?
Bom, até certo ponto alguns podem achar que sim.
Contudo, existe algo que não poderia dar certo e o homem estaria sequenciando a
teoria de Platão acerca do Mundo das Ideias. Tal teoria seria concebível no
mundo atual? A Ética, o fazer a coisa certa, estaria ligada à Razão? A partir
de qual momento a junção destas seria responsável à garantia de liberdade e
felicidade do homem? E como entra o Estado nessa união? Defende-se aqui a ideia
de Hegel, de que o homem só seria livre e feliz no Estado.
Ser justo é fazer Justiça. E, para
compreender esse processo e aceitá-lo de maneira racional é preciso estar
inserido em um contexto social. Somente com o viver na sociedade será possível
pensar ou vislumbrar alguma possibilidade de Justiça. Fosse diferente,
viveríamos no Estado de Natureza. Mas esse tempo já passou. As cidades se
organizaram e leis foram criadas. E é preciso segui-las. Elas, as leis, orientam a tudo e a todos. Faz
parte de todo e qualquer ordenamento social e jurídico.
Para atingir alguma Justiça é preciso,
necessariamente, que se exponha algo que não seja justo. A lei surge, diante
disso, para reparar algum dano causado a alguém. E não faz sentido algum buscar
a Justiça para corrigir o que estaria correto. E é aí que entra a questão: a
lei realmente fará Justiça?
Diz-se que a lei pode não ser justa e que o
papel do representante da Justiça seria garantir o equilíbrio. Para tanto, este
homem precisaria ser justo. Assim ele fará, necessariamente, justiça.
Mas é preciso entender. Compreender. A
leitura das leis, por si só, não garante nenhum entendimento. É necessário
entender o seu significado. Daí a necessidade de se buscar a Filosofia e a
Sociologia para chegar a algo ainda novo, que é a Hermenêutica. Como saber se
aquilo que se pleiteia é realmente a coisa certa? Émile Durkeim vai defender a
teoria do Fato Social, que seria a “coisa” em comum. Mas tal questão é refutada
e surge Max Weber para contrapor, afirmando que a “coisa” não poderia ser a
mesma para todo mundo.
E surge daí a problemática envolvendo Lei e
Justiça. Uns apontam verdade em artigos e súmulas. Outros veem, nos mesmos
artigos e súmulas, outra verdade. E o equilíbrio dessa confusão envolve, por
consequência, o homem justo. E, assim acontecendo, se teria o real significado
da Justiça. E a Hermenêutica surge como algo facilitador no processo: é preciso
conhecer os símbolos (no caso, as leis). Conhecendo-as será possível
interpretá-las. E interpretando se chegará à explicação, que é a verdade que se
quer. A Justiça que se busca.