Por Francisco Carlos*
Como é
que pode uma pessoa ser discriminada em uma situação e, noutra, ser ela mesma
intolerante ou desrespeitosa?
Os
CRISTÃOS, extremamente perseguidos por pagãos romanos, tinham que praticar sua
fé nas catacumbas pois, se pegos, eram jogados aos leões para servir de
diversão.
Esses
cristãos, tornaram-se católicos e perseguiram e assassinaram cristãos
protestantes, negros, "bruxas" etc. Os protestantes, quando tiveram
oportunidade e motivos (?), assassinaram católicos. Tudo amplamente registrado
em ampla literatura.
Os NEGROS
foram, e ainda são, uma das etnias mais perseguidas e humilhadas de toda a
história da humanidade. Creio que não há exemplo maior, de como a cor da pele
determina a vida e a morte, o sofrimento, a humilhação, as restrições e falta
de oportunidades.
No
entanto, no Nordeste brasileiro, mais de 600 escravos eram donos de escravos
(João José Reis, UFBA). O próprio Zumbi de Palmares, símbolo da resistência e
emancipação negra no Brasil, era proprietário de escravos. (Leandro Narloch, no
Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil) (1).
Krueger
(1990) publicou biografia de Mahommah Baquaqua, negro muçulmano trazido para o
Brasil em 1845, que viajou par o Estados Unidos para entregar sacas de café de
seu senhor e fugiu. Esse "fujão" relatou: “Conheci vários tipos de
igreja aqui. Algumas delas pregam o evangelho, mas não se preocupam com o pobre
escravo, não oram por eles, e acreditam que a escravidão é boa. Eles são
cristãos, Senhor! Não posso acreditar jamais (...) Acredito que o Cristão ore
pelo infeliz escravo e pregue contra a escravidão” (2).
Fico
impressionado ao perceber que existe CRISTÃO que apresenta sinais de
discriminação contra negros, pobres, nordestinos, gays ou até em relação há
outros cristãos por questões de "convicção" religiosa.
Fico
impressionado ao perceber que existe NEGRO, "pardo" ou branco com
ascendência negra, que discrimina pobres, nordestinos ou gays. Há cristão negro
(ou "pardo"), intolerante com as religiões afro-brasileiras.
Me
impressiona o fato de existir BRANCO, natural dos estados do sul e sudeste
brasileiro, discriminado na cristã América do Norte por ser latino, que se
permite discriminar nordestinos.
Me
impressiona o fato de existir GAY que discrimina pobres, nordestinos e negros
ou demonstra desrespeito e intolerância aos cristãos, por suas crenças e modo
de vida.
Fico
impressionado ao perceber que existe europeu branco e JUDEU (outras das mais
perseguidas nações da história), que discrimina palestinos.
Os
exemplos e variações são quase infindáveis. Não vale a pena se alongar.
Me sinto
no dever de refletir sobre (in)tolerância e (des)respeito à liberdade e à
cidadania, pois, eu mesmo, como nordestino, negro, cristão e de origem humilde,
também tenho minhas "convicções".
Alerto
que não vou deixar (sem resistência) que outros invadam minhas convicções e
destruam minha visão de mundo. Tenho, então, minhas próprias demonstrações de
intolerância ou até discriminação.
Posso me
defender dizendo que se trata da formação cristã da qual não abro mão, da minha
ideologia de classe (ou seja, a forma como defendo meus privilégios na
sociedade). A visão própria de mundo sempre parece ser a melhor para todos,
mesmo que a história esteja repleta desse tipo de erro.
Às vezes,
por qualquer motivo, tememos exumar nossas "razões". Mas, estou
tentando entender. Estou buscando ajustar meu discurso, minha postura e as ideias
que defendo na sociedade, na família, na igreja e entre meus amigos.
Não tenho
a fórmula certa. Mas, seja qual for a minha posição política, religiosa, étnica
ou social, sinto que preciso e devo ser tolerante, preciso e devo ser
respeitoso. Preciso e devo contribuir para que as pessoas encontrem formas para
exercer seu modo de vida, sem pretender impor essa condição aos outros.
*É professor da UERN e vereador de Mossoró
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