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Fernando Frazão - Agência Brasil |
Lucas Pordeus León
Da
Agência Brasil
A
Câmara dos Deputados aprovou nessa quarta-feira (13), por 351 votos contra 102,
a urgência do projeto de lei que altera o Novo Ensino Médio instituído durante
o governo de Michel Temer, em 2017. Com isso, o projeto pode ser votado na
próxima semana no Plenário da Casa.
A
aprovação dessa urgência promoveu uma reviravolta na tramitação dessa matéria
porque o governo havia retirado o caráter de urgência do projeto na última
segunda-feira (11), argumentando que a medida precisava de mais tempos para ser
debatida. A expectativa era de que o tema ficasse para 2024.
Enviada
pelo governo federal em outubro deste ano, a matéria está sendo relatada pelo
ex-ministro da Educação de Temer, o deputado Mendonça Filho (União-PE). A
decisão do governo de alterar as regras do ensino médio ocorreu após pressão de
entidades, estudantes, professores e especialistas para revogação das mudanças
no currículo aprovadas durante o governo Temer.
Na
votação da urgência na noite dessa quarta-feira, a liderança do governo
encaminhou pelo voto favorável, já os blocos do PT/PCdoB/PV e do PSOL/Rede
encaminharam contra a urgência. Ainda assim, cinco parlamentares do PT votaram
a favor de acelerar a tramitação do PL relatado pelo deputado Mendonça. Os
demais partidos e blocos partidários votaram a favor da urgência.
O
deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) criticou o texto alterado na Câmara,
argumentando que ele desfigurou o projeto enviado pelo Executivo para modificar
o Novo Ensino Médio.
“O
relatório que querem votar daqui a pouco, às pressas, reduz a carga horária da
Base Nacional Comum e traz o notório saber como muito forte. Notório saber é
desrespeito ao professor. Não é qualquer um que pode ir para a sala de aula,
não. É preciso ter uma formação. Ele também retira a obrigatoriedade do
espanhol — uma pauta que eu não aceito —, assim como da sociologia, educação
física, filosofia, arte”, lamentou.
O
projeto original enviado pelo Executivo retomava a carga horária de 2,4 mil
horas de formação geral básica das 3 mil horas totais. O Novo Ensino Médio
fixou essa formação básica em 1,8 mil horas. O substitutivo do Mendonça fixou
em 2,1 mil horas, com 300 horas de aulas que relacionem os conteúdos da Base
Nacional Comum Curricular com a formação técnica profissional.
Além
disso, o projeto do Executivo retirou a previsão de permitir a contratação de
profissionais sem licenciatura, desde que sejam reconhecidos com notório saber
sobre a disciplina. O substitutivo do Mendonça reintroduziu a possibilidade de
contratar profissionais com notório saber na área de formação profissional e
técnica.
O
relator Mendonça Filho, durante a votação, agradeceu apoio do presidente da
Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do colégio de líderes da Casa, por
terem aceitado votar a urgência do PL.
"Precisamos
de uma decisão para sinalizar para os estudantes, para as redes estaduais, para
os secretários estaduais de educação, que respondem por 84% da oferta de vagas
no ensino médio público brasileiro, para essa gente que quer ter acesso ao mercado
de trabalho, quer melhorar a renda. E é por isso que eu peço a todos aqui que
têm compromisso com o futuro da educação que possamos abandonar o velho ensino
médio”, destacou.
Repercussão
O
substituto do Mendonça vem sofrendo críticas dos membros da Campanha Nacional
pelo Direito à Educação que consideram que o texto retoma as normas do projeto
do governo Temer. A organização reúne sindicatos, movimentos sociais,
estudantis e comunitários.
O
professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
(USP), lamentou a aprovação da urgência e defendeu que o texto aumenta as
desigualdades entre os ensinos público e privado no Brasil.
“Mendonça
praticamente reeditou a Medida Provisória do Temer fazendo uma falsa
determinação de 2,1 mil horas. Na prática, são 2,1 mil horas de formação geral
básica, mas 300 horas podem ser feitas dentro dos itinerários formativos. Ou
seja, voltam as 1,8 mil horas de formação básica”, destacou.
Sobre
a reintrodução do notório saber como suficiente para contratação de
professores, Daniel diz que a medida coloca pessoas que não foram preparadas
para serem professores.
“O
objetivo é diminuir a pressão, que hoje as redes públicas enfrentam, para
contratação de professores via concurso. Esse é o interesse econômico por trás
da reforma. É descaracterizar a profissão de docentes para que qualquer um seja
professor”, destacou.
Por
outro lado, o Todos Pela Educação avaliou que o substituto do Mendonça traz
avanços em relação ao texto do governo federal, apesar de ponderar que precisa
de melhorias. A Organização Não Governamental
(ONG) informa que é financiada apenas por recursos privados.
A
ONG concordou em aumentar as horas para a educação profissional e técnica. “É
um movimento correto no sentido de não fragilizar a busca por maior integração
da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) com o Ensino Médio regular, um dos
pilares da essência da reforma”, destacou.
A
organização também é favorável à possibilidade de contratar profissionais sem
formação própria de professor, argumentando que a proposta original do
Executivo “dificultaria sobremaneira a ampliação da educação profissional e
tecnológica”.
MEC
Em
nota, o Ministério da Educação (MEC) disse que o Brasil tem a chance de
pacificar o tema do ensino médio e defendeu a manutenção das 2,4 mil horas para
Formação Geral Básica no Ensino Médio.
“Cargas
horárias diferentes para o caso da oferta de formação técnica são possíveis,
inclusive prevendo longo período de transição. Isso não precisa,
necessariamente, representar a redução da Formação Geral Básica de 2400 horas”,
informou o MEC à Agência Brasil.
A reportagem procurou a liderança do governo na Câmara para comentar o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
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