Prefeitura Municipal de Assú

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

'É essencial manter a essência...'

Político que se preza deve levar em consideração parte de letra de composição cantada pela dupla "Os Nonatos". Diz assim: "... tenho medo de você mudar e a outra pessoa não me apaixonar..." Essa frase, que pode parecer apenas impactada e pensada para causar rima, é tão intensa e profunda quanto o viver humano. Mas a letra segue com outro trecho interessante: "... quem não tem caráter muda a consciência/é essencial manter a essência..."

Para bom entendedor, bastam duas frases. O que parte da letra de "Os Nonatos" remete é uma questão puramente filosófica. Primeiro porque remete ao ato de o homem se transformar. Algo ligado diretamente ao fogo de Heráclito, ao Devir. 

Ou seja: tudo se transforma e tudo necessita de algo que o complemente. Assim como dia e noite, morte e vida... Na visão racional de mundo exposta por Heráclito, tudo está em constante transformação. Inclusive e sobretudo o homem. Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Do nascimento à morte, uma série de fatores ocorre e nos transforma.

E o filósofo vai mais além ao reafirmar o raciocínio acerca da transformação: "é impossível a mesma pessoa entrar na água de um mesmo rio duas vezes."

Ao dar a primeira passada, a água corrente é uma e ao ensaiar o segundo passo, alguma coisa aconteceu no universo que modificou o homem: uma célula que morreu e outra nasceu, crianças nasceram, árvores germinaram, pessoas adoeceram e o universo também sofreu alteração. Sim, pois segundo a física quântica, o universo está sempre em expansão. Daí o homem também não ser mais o mesmo.

Ocorre que, apesar dessa transformação, é primordial que o homem mantenha sua essência. É igual à laranja: descasque-a e sobrará os gumes. Tire-os e restam o bagaço e o caroço. Tire-os. Restará a essência. A alma. Assim nos ensina Heráclito.

Na outra frase, "quem não tem caráter muda a consciência/é essencial manter a essência...", a dupla "Os Nonatos" mescla Heráclito com Aristóteles. Este segundo apontará que é a consciência que determina a vida. Assim sendo, se alguém mudar sua consciência, obviamente, transformará a própria essência. Perderá, consequentemente, o que conquistou anteriormente.

E é aí que entra a questão posta no primeiro parágrafo deste post: o político. Não aquele vislumbrado pelo nascedouro da Democracia, na Grécia Antiga, do homem enquanto ser político, e sim ao que se envolve na política partidária. Ao que detém mandato eletivo.

Em campanha eleitoral, o sujeito se apresenta como uma pessoa. Consegue atrair admiradores, seguidores e, obviamente, eleitores. Depois, com o mandato garantido, resolve atropelar algo inerente ao que o levou à determinada função. Já não olha nos olhos e nem cumprimenta as pessoas como antes. Esse transformar é o que acaba com alguns.

Uns podem até não vislumbrar ou detectar relação com que o blog diz aqui com a chamada vida prática. Mas, se formos analisar o que ensinam teóricos, os quais embasam todas as ciências, acabaremos concordando com a tese aqui exposta.

Daí alguns políticos buscarem a filosofia para apresentarem frases de efeito. Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Platão e vários outros são exemplos desta constatação. Não que os ensinamentos destes pensadores tenham algum efeito na essência ou na transformação que se evidencia pós-abertura de urnas. Mas sim para recuperarem algo perdido no tempo e no espaço: a confiança neles mesmos. Sim, pois quem se transforma, quem perde a essência precisa, necessariamente, rever seus caminhos e detectar onde e como aconteceram fatos que provocaram essas transformações. Uns conseguem voltar às origens. Outros se perdem. Assim como muitos não conseguem captar nas palavras algo que o senso comum jamais alcança;

Nenhum comentário: