Sete meses após concluir oito anos
de mandato na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o ex-deputado
Leonardo Nogueira (DEM) está definitivamente reinserido na profissão de médico.
Ele não deseja mais voltar a ocupar cargo eletivo. Diz que já cumpriu a missão
e sugere que existem bons nomes para representar bem o povo de Mossoró, sua
terra natal. No entanto, a política não saiu dele. E é com essa motivação que
Leonardo Nogueira trabalha com o seu grupo para viabilizar a candidatura da
ex-prefeita Fafá Rosado (PMDB), sua esposa, à sucessão municipal de 2016. “Ela
é pré-candidata”, afirmou, durante longa conversa no “Cafezinho com César
Santos”, na tarde da última quinta-feira (16). O ex-deputado disse que o povo
está convocando Fafá de volta porque está decepcionado com a gestão do prefeito
Silveira Júnior (PSD). “Ele não honrou com a palavra, perdeu a confiança e,
para piorar, não faz uma boa gestão por completa falta de competência”,
afirmou. Leonardo Nogueira acredita que será possível Fafá caminhar junta com a
ex-governadora Rosalba Ciarlini (sem partido), mas ressalta que ainda existe
muita coisa a ser resolvida, principalmente com a relação à situação jurídica
que envolve Rosalba. “O que sei é que as pessoas querem Fafá e Rosalba juntas
outra vez.”
DE FATO – O seu grupo político
trabalha para ter uma participação direção na disputa à Prefeitura de Mossoró
em 2016. De que forma o senhor entende que será essa participação?
LEONARDO NOGUEIRA – O trabalho que
nós desenvolvemos como cidadãos, como pessoas que têm responsabilidade com
Mossoró e, principalmente, com a experiência de dois mandatos da ex-prefeita
Fafá e dos meus dois mandatos como deputado estadual nos permite ter uma
participação direta na sucessão municipal. Vamos participar ativamente do
processo, pode ter certeza. Temos muito a oferecer ao povo de nossa cidade e
temos responsabilidade com o futuro de Mossoró. Portanto, é natural que
tenhamos participação no momento importante que é a escolha do futuro gestor
municipal.
FAFÁ Rosado é pré-candidata à
Prefeitura de Mossoró?
UMA pré-candidatura existe quando
há um chamamento popular, um incentivo do povo em relação a ocupar um cargo
público. Essa convocação existe. Onde nós visitamos, onde nós trabalhamos,
existe uma convocação muito forte das pessoas, principalmente daquelas que
estão decepcionadas com a atual gestão municipal. Essas pessoas sentem saudade
da época em que Fafá era a prefeita, porque a sua gestão foi muito boa para a
cidade. Isso faz que a gente possa dizer que sim, que Fafá é pré-candidata à
sucessão municipal.
A QUE se deve essa convocação que
o senhor diz que o povo pede o retorno da ex-prefeita Fafá Rosado?
EU ACREDITO que, primeiramente,
pela boa gestão que Fafá fez. Ela saiu da Prefeitura em 2012 com quase 80 por
cento de aprovação popular. Realizou grandes obras na cidade, obras
importantes, estruturantes e que melhoraram a vida das pessoas, principalmente
em áreas vitais, como saúde e educação. Segundo, eu acredito que esse
chamamento se justifica, também, pelo descrédito que enfrenta o atual governo
municipal. Como a cidade não está bem, porque o prefeito que aí está não tem
competência para governar, é natural que o cidadão queira de volta quem
realmente fez uma grande gestão, no caso a ex-prefeita Fafá.
ESSE descrédito do prefeito
Silveira Júnior, ao qual o senhor se refere, é uma crítica pessoal ou realmente
é sentimento popular?
NÃO tem nenhuma questão pessoal.
Eu vejo o descrédito a partir da decepção do povo de Mossoró. A crítica é geral
em todos os cantos e recantos da cidade. A população está reclamando do lixo
acumulado nas ruas, das avenidas esburacadas, do caos na saúde, do atraso de
pagamento aos prestadores de serviços que, por consequência, não pagam os
salários dos servidores, e de muitos outros problemas. Veja a greve dos
servidores públicos que se arrasta e o prefeito não tem uma solução. O Mossoró
Cidade Junina, orgulho do nosso povo, foi um desastre em termos de organização.
Além disso, não existe uma obra importante sendo executada na cidade. O que eu
estou dizendo aqui e agora é o que o povo diz nas ruas. Inclusive, na última
pesquisa de opinião pública a gestão Silveira apareceu com quase 80% de
reprovação. Logicamente que nós não concordamos e não aceitamos com o descalabro
administrativo que aí está.
MAS o prefeito alega que as
dificuldades existem porque há uma crise no âmbito nacional.
CONCORDAMOS que existe uma crise
econômica no País sem precedente. Os brasileiros, sem exceção, estão sentindo
os efeitos dessa crise. Há dificuldades em todos os segmentos, com a inflação
voltando, o desemprego em alta etc.. Agora, os gestores públicos que se
prepararam e que têm competência estão conseguindo conduzir bem as suas
administrações. Temos exemplos de Prefeituras vizinhas a Mossoró que caminham
bem, mesmo com dificuldades. E os prefeitos dessas cidades não estão sendo
vaiados, como acontece com o prefeito de Mossoró. Então, existe uma crise de
competência na gestão do prefeito Silveira, e isso o próprio cidadão
mossoroense é quem atesta. A nossa cidade está abandonada pelo gestor
municipal. Isso é fato.
SILVEIRA Júnior não estava
preparado para governar uma cidade do porte e da importância de Mossoró? É
isso?
VEJA só: Silveira era presidente
da Câmara Municipal, tinha uma experiência de três mandatos no Legislativo e
não sabia como era administrar uma cidade. A Prefeitura caiu no seu colo quando
a então prefeita Cláudia Regina foi cassada. Depois, ele teve o aval do eleitor
nas eleições suplementares. Até aí, nenhuma experiência no Executivo. Ele não
estava preparado e está demonstrando isso. Além de não ter um projeto para
Mossoró, de não realizar o básico do básico, ele comete uma trapalhada atrás da
outra.
MAS, o seu grupo apoiou a candidatura
de Silveira nas eleições suplementares. Foi um erro?
NÃO. Não foi um erro. Nós, assim
como o eleitor, demos uma oportunidade a ele. Acreditávamos que era possível
Silveira fazer uma boa gestão com a ajuda de um grupo experiente que havia
governado Mossoró por oito anos. Mas, ele jogou tudo fora, descumprindo
compromissos que havia assumido com o nosso grupo. Então, acho que quando um
cidadão, seja político ou não, não honra os compromissos, não cumpre a palavra,
ele não é digno do crédito da sociedade. É o que está acontecendo com o
prefeito Silveira. A quebra do compromisso, da palavra, não é apenas em relação
a projeto político meu ou da ex-prefeita Fafá, mas de compromisso assumido com
o povo de Mossoró. Ele fez promessas ao povo, no entanto está sendo omisso,
negligente, incompetente.
MAS o prefeito tem dito que não há
reprovação popular e que vai colocar o seu nome para julgamento nas eleições do
próximo ano. É possível?
NÃO acredito. A situação política
de Silveira é muito delicada, porque ele caiu no descrédito da população.
Qualquer gestor público pode se recuperar quando ele não perde a credibilidade,
porque o próprio tempo e a força do poder ajudam muito. No entanto, no caso
específico do prefeito de Mossoró, não existe crédito, confiança, as pessoas
estão decepcionadas, e isso temos ouvido em todos os cantos. Então, não vejo
como o prefeito se recuperar até para ser candidato.
VOLTANDO para a pré-candidatura de
Fafá Rosado. Existe o aceno das pessoas de forma positiva, mas é preciso ter um
palanque para consolidar uma candidatura. De que forma o seu grupo está
trabalhando nesse sentido?
A EX-PREFEITA Fafá é presidente do
PMDB de Mossoró e tem se movimentado no sentido de fortalecer o projeto dentro
do partido. A gente sente a vontade do PMDB estadual de ter candidatura própria
em todos os municípios do Rio Grande do Norte ou ter participação em chapas
majoritárias. Mossoró não é exceção para o PMDB. Esse fato, logicamente, faz
que todo o nosso grupo comece a realizar trabalhos e se apresentar ao povo como
opção. Então, a ex-prefeita Fafá está buscando consolidar essa possibilidade,
através do contato com as lideranças, com as comunidades, com amigos e
correligionários.
O PROJETO político do seu grupo
para 2016 passa pela ex-governadora Rosalba Ciarlini ou uma possível postulação
de Fafá não depende do rosalbismo?
PASSA, sim. Temos conversado com o
deputado Carlos Augusto e com Rosalba, e a gente sempre coloca a necessidade de
nós construirmos juntos a possibilidade de candidatura à sucessão mossoroense.
Temos conversado de forma ampla, inclusive, sobre as questões jurídicas que
envolvem todo o processo, não apenas com relação a Rosalba, mas também a
Cláudia Regina e ao próprio prefeito Silveira. A questão jurídica vai mexer com
as possibilidades de palanque para 2016, não tenha dúvida. Portanto, temos
conversado sobre isso e não há dúvida que há o interesse de união de lado a
lado.
DE FORMA direta, dr. Leonardo: uma
candidatura de Fafá depende de Rosalba?
O QUE a gente percebe hoje é que
há um desejo muito grande que Fafá e Rosalba caminhem juntas; isso é unânime.
Agora, como isso vai ser possível? Lógico que tudo vai depender da situação
jurídica de Rosalba no momento das definições. Agora, quero afirmar que uma
possível candidatura de Fafá não acontecerá por imposição. Ela não será
candidata apenas por querer ser candidata. Nós estamos ouvindo o povo, os
amigos, os correligionários e vamos dialogar com Rosalba e com Carlos antes de
tomar qualquer decisão.
O SENHOR se sentiu traído pelo
prefeito Silveira porque ele não apoiou o seu projeto de reeleição de deputado.
Houve, realmente, quebra de compromisso?
ESSE assunto é de conhecimento
público, até. Quando apoiamos a candidatura dele a prefeito nas suplementares,
ficou certo que ele nos apoiaria em 2014. E o registro do nosso pacto
político-eleitoral foi feito na presença das duas famílias – a minha e a dele –
e nem assim foi suficiente para o prefeito cumprir a sua parte. Mas,
infelizmente, não honrou a palavra, não cumpriu o compromisso. Ele preferiu
apoiar o deputado Galeno Torquato, o que acabou por atrapalhar a nossa
candidatura. Mas, não faria aqui qualquer julgamento; eu deixo para o povo se
encarregar da palavra final.
O ELEITOR de Mossoró, orientado
pelo prefeito, fez opção por Galeno Torquato, que até aqui não correspondeu com
trabalho. A cidade sofre com a falta de um legítimo representante na Assembleia
Legislativa?
ISSO nos deixa tristes. Não por
uma questão pessoal, mas pelo prejuízo que nossa cidade tem por não ter eleito um
único representante na Assembleia Legislativa. Veja que São Miguel, bem menor
do que Mossoró, tem dois deputados estaduais. A região do Alto Oeste é
representada por quatro deputados. O Seridó também tem quatro deputados. A
Grande Natal elegeu sete. Assú e Areia Branca, nossos vizinhos, elegeram
deputados estaduais. A consequência disso é que perdemos representatividade, a
cidade ficou sem voz na Assembleia Legislativa. A minha não reeleição e a de
Larissa Rosado trouxeram enormes prejuízos, porque nosso mandato sempre esteve
à disposição de Mossoró. Na Assembleia, nós colocávamos na pauta as principais
demandas da cidade, lutávamos por benefícios. Hoje, nenhum deputado faz isso
pelo povo mossoroense. Infelizmente.
O SENHOR ainda é filiado ao
Democratas, do senador José Agripino, mas está afastado dele politicamente. Já
decidiu o seu futuro em termos de filiação partidária?
NÓS vamos decidir isso depois de
uma definição sobre a situação política de Mossoró. Refiro-me à questão
jurídica de Rosalba e Cláudia, porque a partir daí teremos um quadro mais claro
em relação à sucessão municipal. Então, vamos decidir com calma, ouvindo o
grupo, para que possamos fazer a melhor opção.
O SENHOR ainda deseja disputar
cargo eletivo?
EU TIVE uma experiência muito boa
e gratificante em oito anos de mandato na Assembleia Legislativa, mas acho que
já dei a minha contribuição como detentor de cargo eletivo. Sou uma pessoa
muita realizada como médico, exerço a profissão com amor; inclusive, estou
realizando um curso de atualização na minha área que terá duração de um ano.
Então, estou me inserindo cada vez mais na área médica e não vejo mais tanta
necessidade de voltar a assumir cargo eletivo. Temos bons nomes que podem dar
sequência ao bom trabalho que a gente fez como deputado estadual.
Fonte: Jornal de Fato
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